Livro: Tabuleiro dos Deuses
Título original: Gameboard of the Gods.
Autor (a): Richelle Mead
Editora: Paralela
Páginas: 424
ISBN: 9788565530514
Sinopse: Justin March, um investigador de religiões charmoso e traiçoeiro, volta para a República Unida da América do Norte (RUAN), após um misterioso exílio. Sua missão é encontrar os responsáveis por uma série de assassinatos relacionados com seitas clandestinas. Sua guarda-costas, Mae Koskinen, é linda, mas fatal. Membro da tropa de elite do exército, ela irá acompanhar e proteger Justin nessa caçada. Aos poucos, os dois descobrem que humanos são meras peças no tabuleiro de poderes inimagináveis. 

SÉRIE "A ERA DE X"
    1.  Tabuleiro dos Deuses
    2.  The Immortal Crown (sem previsão de lançamento)


     No primeiro volume de “A Era X”, Tabuleiro dos Deuses, somos introduzidos a um mundo distópico e futurístico, dominado pela RANU – a República Unida da América do Norte – e controlado por deuses. A trama apresenta um cenário onde, depois de intensas guerras religiosas, biológicas e culturais – chamado de “Declínio” – as antigas potências mundiais se uniram para assegurar sua hegemonia. A RANU é o país mais desenvolvido, possuindo um poder imenso e tecnologia extremamente avançada quando comparada aos demais, que são chamados, com certo desprezo, de províncias.
"A RANU responsabilizava três coisas pelo Declínio: a manipulação biológica, a religião e o separatismo cultural. Todas as primeiras mestiçagens genéticas haviam se esforçado muito para aniquilar a solidariedade étnica, e os modelos vagamento greco-romanos que o país adotara possibilitaram uma nova cultura abrangente da qual todos podiam fazer parte."
   Mae Koskien é uma linda, mas fatal, mulher. Ela faz parte da mais alta elite do exército, os chamados pretorianos – uma patente especial, criada para designar os fatais soldados da RANU que possuem um chip implantados em seus corpos, os tornando super-humanos. Apesar de ser conhecida pela sua habilidade de estar sempre no controle, Mae se envolve em conflito com outra pretoriana no velório de seu ex-amante, e, como punição, é designada a proteger um civil – uma tarefa simplória e um tanto humilhante para os poderosos pretorianos.
   Justin March é um ex-servidor – funcionários do governo que, em um mundo onde a religião foi culpada por conflitos e foi banida, fiscalizam as religiões ainda existentes, que precisam ser registradas e monitoradas pela RANU. Ele está exilado no Panamá, uma das províncias, por motivos desconhecidos, e, quando misteriosos assassinatos começam a assombrar pessoas poderosas, ele é chamado de volta à RANU para investigá-los. Ele conta com a proteção de Mae como sua guarda-costas, mas nada é tão simples quanto parece, inclusive a relação que ambos desenvolvem. 

   Sou completamente suspeita para falar sobre uma obra da Richelle Mead – ela é, afinal, uma de minhas autoras preferidas. Depois de ler duas maravilhosas séries da autora, é claro que embarquei de cabeça em mais um universo criado por ela; e, como já é de praxe, não cheguei sequer perto de me decepcionar. 
   Se podemos constatar um fato sobre Tabuleiro dos Deuses é que se trata de um livro brilhantemente arquitetado. Cada vez que inicio uma série de Mead fico impressionada com a facilidade que a autora possui em nos transportar para um mundo completamente exótico e fazê-lo parecer como se fosse algo comum, e é isso que acontece nesse livro. É claro, no começo, tudo é muito novo, bastante complexo e leva certo esforço para compreender – mas, depois que nos acostumamos com os termos, lugares e a maneira de se portar da sociedade, a leitura flui quase magicamente. 
    O livro é narrado em terceira pessoa, mas conta a história sob três pontos de vistas diferentes; o de Mae, Justin e da jovem Tessa. Isso é algo incrível sobre a obra, pois, de tal modo, deparamo-nos com a visão de personagens completamente singulares e com opiniões opostas sobre fatos. Mae, a super soldada fiel à nação, imbatível e fatal; Justin, o inteligentíssimo doutor, que, ao mesmo tempo, é cheio de vícios e dono de uma personalidade difícil; e Tessa, uma adolescente nascida em uma das atrasadas províncias que, agora na RANU, precisa aprender a lidar com toda a modernidade existente e com a sociedade singular na qual está vivendo. 
    É interessante o fato de, em Tabuleiro dos Deuses, tantos temas serem abordados de uma vez só. Desde o início, não é muito claro aonde a autora quer chegar, devido a tantas situações serem apresentadas, tantas coisas acontecerem ao mesmo tempo – e isso, em minha opinião, ao menos, é o que estimula o leitor a continuar a leitura; a vontade de saber onde a história vai parar. Há, na história, uma mistura enorme de política, ação, uma pegada de romance e até mesmo religião, ainda que a presença dos deuses – a despeito do nome do livro – seja parca no enredo. 
"Você pode ignorar o resto das pessoas porque é melhor do que elas. Livre-se dos sentimentos, pois, se elas não puderem vê-los, não poderão usá-los contra você."
     Acredito que esse primeiro volume seja mais introdutório, já que focou mais nas relações entre os personagens e no desenvolvimento da sociedade do que na fantasia em geral, mas espero que tal lado mitológico (que, a propósito, é muito diversificado, misturando mitologias nórdica, celta e grega, entre outras) seja mais explorado nos próximos volumes, com o enorme gancho que Mead deixou no final do livro. Por ser tão diferente, é fácil, como já afirmei, estranhar o cenário de início, mas, depois da metade do livro a história torna-se tão viciante que é quase impossível largá-la.

   Em relação aos personagens, um dos fatores que mais admiro em relação à Mead é sua habilidade de criar personagens femininas fortes. Mais uma vez, a autora não me decepcionou com Mae. Ela é o tipo de mulher decidida, inteligente e linda na qual todas nos espelhamos, mas, acima de tudo, é uma das raras protagonistas badasss que aparecem na ficção, deixando de lado qualquer clichê e salvando o dia mais de uma vez. Simultaneamente, ao mesmo tempo que Mae se tornou uma das minhas personagens preferidas da ficção, a mesma coisa, infelizmente, não aconteceu com Justin. 

    Justin é um verdadeiro gênio. Muito inteligente, ele possui habilidades de percepção exageradamente altas, e é considerado o melhor de sua área. Contudo, é justamente toda essa habilidade que o torna vulnerável – a única maneira encontrada por Justin de “se desligar” do mundo é através de seus inúmeros vícios, e, entre drogas, cigarros e bebidas, leva sua vida de uma maneira singular. Ele é irônico, charmoso e manipulador, apesar de se importar muito com sua família e cuidar daqueles que ama. 
"Com relação aos prazeres da vida, ele costumava achar que, se um era bom, dez era melhor."
    Na realidade, é um pouco duro demais falar que o personagem não me agradou; eu fiquei, é claro, torcendo por ele e Mae durante todo o livro. O que acontece em relação a Justin é que, apesar de todo o seu charme, suas atitudes muitas vezes o faziam parecer um jovem de 18 anos, quando ele possui 35. Apesar de ter simpatizado, sim, com ele, o que me incomodou foi que, depois da metade do livro, ele não parece ser o super gênio que foi descrito, mas apenas um cara comum e um pouco imaturo. De qualquer modo, se trata mais de algo que me deixou incomodada, e não de uma coisa que possa afetar o desenvolvimento do livro. 

    Não é à toa que Tabuleiro dos Deuses recebe seu nome – se eu tivesse que defini-lo em um termo seria “tabuleiro de xadrez”. Tudo é brilhantemente arquitetado, inserido pela autora de modo a se encaixar com o tempo e o decorrer da leitura, que se desenvolve aos poucos, e chega a um ápice genial. Mal posso esperar pela continuação da série, que deve nos enredar mais e mais nessa teia criada pelo primeiro volume. 
   O design por parte da Paralela é incrível, e capa tornou-se uma das minhas preferidas com modelos, trazendo o tom misterioso e místico (além de retratar uma Mae perfeita!) que o livro possui. A diagramação é simples e bela, e a tradução muito bem feita. Não encontrei, durante a leitura – que é composta por 424 páginas – nenhum erro de gramática ou revisão. 
    Por fim, se você procura uma história adulta e inteligente, tenha certeza de que Tabuleiro dos Deuses é a pedida correta para você. Não é uma leitura leve nem fácil, mas que instiga o leitor a pensar e tentar desvendar a grande e original trama, além de trazer consigo críticas veladas à sociedade atual. Richelle Mead consegue mais uma vez, como é já comum para ela, acertar em cheio na criação de sua história, e o livro se tornou uma de minhas melhores leituras do ano. Super recomendado!

Primeiro parágrafo do livro:
"Mae matava o tempo todo. A morte não era nenhum problema para ela."
Melhor quote:
"Como uma devoção assim acontece?, ele perguntou. (...)
Não precisa existir nada tão complexo atrás do amor, Magnus respondeu. As pessoas simplesmente se preocupam umas com as outras porque... sim. (...)"


  


2 Comentários

  1. oi gabi...
    suas resenhas sao sempre maravilhosas, e essa esta ainda melhor. amei.. sou uma mega fã de richelle mead, e na vdd comecei a ler academia dos vampiros pq voces recomendaram
    com certeza vou ler esse novo tb pq se voce disseram que é muito bm deve ser rsrsrs
    beijao

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  2. mais e sobre os deuses? eles aparecem bastante? meio estranho, eu achei kkkk

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