Livro: O Sol Também é Uma Estrela
Título Original: The Sun is Also a Star
Autor (a): Nicola Yoon
Editora: Arqueiro
Páginas: 279
ISBN: 978-85-8041-658-9
Sinopse: Natasha: sou uma garota que acredita na ciência e nos fatos. Não acredito na sorte. Nem no destino. Muito menos em sonhos que nunca se tornarão realidade. Não sou o tipo de garota que se apaixona perdidamente por um garoto bonito que encontra numa rua movimentada de Nova York. Não quando minha família está a 12 horas de ser deportada para a Jamaica. Apaixonar-me por ele não pode ser a minha história. Daniel: sou um bom filho e um bom aluno. Sempre estive à altura das grandes expectativas dos meus pais. Nunca me permiti ser o poeta. Nem o sonhador. Mas, quando a vi, esqueci de tudo isso. Há alguma coisa em Natasha que me faz pensar que o destino tem algo extraordinário reservado para nós dois. Universo: cada momento de nossas vidas nos trouxe a este instante único. Há um milhão de futuros diante de nós. Qual deles se tornará realidade?

Nicola Yoon é autora do best-seller Tudo e Todas as Coisas, cuja adaptação para o cinema estreia em 2017. Ela nasceu na Jamaica, cresceu no Brooklyn e mora em Los Angeles com a família. É uma romântica incurável que acredita ser possível se apaixonar num instante e que isso pode durar para sempre. O Sol Também é Uma Estrela é seu segundo livro. Ele foi considerado Melhor Livro do Ano por Publisher's Weekly e Amazon, foi finalista do National Book Awards 2016 e ficou em primeiro lugar na lista dos Mais Vendidos no The New York Times.

   Natasha e Daniel. Uma jamaicana e um coreano-americano. Ela vê o mundo como um enorme banco de dados, onde tudo se encaixa em seu lugar através da perfeita exatidão da ciência. Ele acredita que todos estamos conectados por uma força maior e que Deus pode ser essa força. Ela pretende ser uma cientista de dados. Ele pretende ser poeta. O pai dela é um sonhador inveterado. O pai dele só quer que os filhos cursem uma boa faculdade e tenham uma vida próspera. A mãe dela já se decepcionou muito com os sonhos e só quer ter os pés no chão. A mãe dele deixou seus sonhos de lado para construir uma família. Pessoas tão diferentes acabam descobrindo que podem ter algo em comum quando o destino – ou seria o acaso? – prega uma surpresa e faz com que seus caminhos se cruzem.
   Quando tinha apenas oito anos, Natasha Kingsley se mudou para os Estados Unidos com sua família com o visto de turistas válido por dois meses. Os dois meses se passaram e eles continuaram morando por lá de forma ilegal. Natasha estudou, planejou mil coisas e estava preparada para entrar na Universidade, quando um erro de seu pai os fez serem descobertos e sua família recebe a intimação para sair do país. Já Daniel Bae sempre tentou ser o filho perfeito, apesar de ter toda uma aura sonhadora que seu pai, Dae Hyun Bae, nunca aprovou. O Sr. Bae desejava apenas o melhor para os seus filhos, já que não teve as oportunidades que eles têm. Porém Daniel sempre viveu à sombra de seu impecável irmão mais velho, Charlie, com quem nunca se deu bem e diante da possível admissão na Universidade de Yale, Daniel se vê com uma tremenda responsabilidade que talvez não esteja pronto para assumir.
    Por ocasião de uma cadeia de eventos, Natasha e Daniel se encontram. Ele fica imediatamente fascinado pela garota de black power e grandes fones de ouvido rosa-choque que usa uma camiseta que diz "DEUS EX MACHINE" – para Daniel, que não acredita em coincidências, isso é um sinal de que deve seguir a garota. E ele não desiste, ganhando sua atenção, até os dois perceberem que foram "feitos um para o outro" – coisa que Natasha é extremamente cética em crer. De toda forma, o que Daniel não sabia é que havia entrado na vida de Natasha no momento mais inapropriado: ela estava prestes a ser deportada e não podia ver um futuro onde eles estariam juntos. Ou talvez aquele fosse o momento mais adequado, como estavam prestes a descobrir.

"O vocalista do Nirvana era o Kurt Cobain. Sua voz, a corrosão que existe nela, o modo como não é perfeita, o modo como a gente sente tudo que ele já sentiu, o jeito como a voz se estica tão esgarçada que parece que ela vai se romper e não se rompe, foi a única coisa que me manteve sã desde o início deste pesadelo. Seu sofrimento é muito mais desesperançado do que o meu". (p. 14.)

    Foi minha primeira experiência com um livro de Nicola Yoon. Por isso, não sabia ao certo o que esperar: será que sua narrativa prosseguirá nesse ritmo até o final? Será que ela costuma bolar finais felizes para seus personagens? Será que ela pode mudar os rumos da história dos protagonistas de forma muito brusca? Todas essas inseguranças se fizeram muito pronunciadas ao longo da leitura, porque estava me apaixonando cada vez mais pelo livro e não queria me decepcionar – esses casos são sempre difíceis, como se eu estivesse vivendo o mesmo drama dos personagens, só que em outra versão. Mas na minha mente, um livro que recebeu tantas indicações, inclusive do tão renomado The New York Times não poderia ser menos do que é: espetacular.
    Cada palavra parecia ser digna de ser grifada e trazida para os quotes do blog. A escrita de Yoon é fluida, poética, envolvente, contendo emoções e sensações que transcendem seus significados presos às palavras. É como se ela pretendesse tocar no âmago de cada leitor. Sua escrita faz com que as coisas mais profundas pareçam simples – como quando Daniel diz que o cabelo de Natasha cheira a chuva de primavera. E o contrário também é válido, pois a autora faz com que as coisas simples pareçam profundas – como uma troca de olhares ou um toque.
    A narrativa varia a cada capítulo. Há aquela em primeira pessoa, com Natasha e Daniel, e em terceira com os demais personagens. Neste último caso, ela se torna onisciente e contínua, pois os capítulos se alternam e uma história que começou no início tem seu desfecho no final – são diversas narrativas paralelas à presente dos protagonistas, que é mais linear. Além disso, a autora faz algumas interrupções para dedicar um capítulo à alguma definição (em um deles ela explica a evolução dos olhos, noutro fala sobre o mercado de perucas coreano, recheando o livro com informações que não são importantes para o decorrer da história, mas ainda assim parecem muito úteis para um arcabouço de conhecimento).

"Secretamente, no fundo do coração, quase todo mundo acredita que existe algum sentido, alguma objetividade na vida. Justiça. Coisas boas acontecem com pessoas boas. Coisas ruins acontecem com pessoas ruins. Ninguém quer acreditar que a vida é aleatória [...]. É melhor ver a vida como ela é, e não como a gente quer que seja. As coisas não acontecem por algum motivo. Simplesmente acontecem" (p.34).


    Logo no início, a história já traz todo o seu impacto. Não é daquelas que vão prendendo aos pouquinhos e depois mostra ao que veio; O Sol Também é Uma Estrela envolve logo de primeira e não solta mais, de forma que a vontade é a de ler o livro inteiro naquele instante e não largá-lo o dia todo. Isso me surpreendeu bastante, pois lembro que iniciei a leitura dentro do ônibus e definitivamente não estava preparada, então me arrependi na hora e desejei ter começado a ler em casa, onde não me preocuparia em disfarçar meu choque – positivo, que fique claro. A partir daí não consegui descansar até terminá-lo. E posso garantir que são poucos os livros que tem essa capacidade sobre mim, por isso superou minhas expectativas da melhor forma.
    Os protagonistas têm uma química inegável, se encaixam muito bem sem que toda a situação soe artificial. São verdadeiros opostos um do outro, mas quando estão juntos parece que foram realmente destinados a se conhecerem e construírem uma história, pois também descobrem que têm bastante em comum. Todos os personagens são construídos para representar o ser humano que sonha e faz mil planos, mas, desgastado pelas quedas e decepções, desiste de tudo e segue o que parece ser mais simples. Este é o caso não só de Natasha, mas também de sua mãe e dos pais de Daniel. O interessante é que todos são trabalhados destinados a um único fim: estar no momento certo, na hora certa e com a pessoa certa. São essas pequenas coincidências que interligam cada um dos personagens: desde os protagonistas àqueles que aparecem uma única vez na narrativa.
   Outro tema que Yoon aborda é a mescla entre etnias. A inclusão de uma protagonista mulher e negra aparece mais uma vez em seu estilo: Tudo e Todas as Coisas segue esse padrão da garota negra e do garoto sonhador de cabelos longos. Em O Sol Também é Uma Estrela também temos a inclusão de costumes coreanos, onde se faz bem presente toda a história da imigração coreana nos Estados Unidos, o que abrange a vida e a família de Daniel. O preconceito é outro fator que predomina no contexto da família dele – o fato de ele namorar uma garota negra, que ainda por cima assume seu cabelo crespo, é um absurdo, o ideal seria namorar uma garota coreana. Yoon ajuda a quebrar todas essas barreiras com o casal protagonista, que tem uma leveza sublime ao se deparar com esses assuntos, tão banais perto do que sentem um pelo outro.

"Nós temos cérebros grandes e lindos. Inventamos coisas que voam. Voam. Escrevemos poesia. [...] Somos capazes de grandes vidas. De uma grande história. Por que aceitar menos? Por que escolher a coisa mais prática, a coisa corriqueira? Nós nascemos para sonhar e fazer as coisas com as quais sonhamos" (p. 85).

    O Sol Também é Uma Estrela, como muitos podem prever pelo que foi dito até agora, é daqueles livros que te iludem até dizer chega. Dificilmente iremos nos deparar com o amor de nossas vidas no meio da rua, nos apaixonar perdidamente e ter um dia lindo ao lado dela. Se isso já aconteceu para você, comente sobre, por favor. O fato é que apesar de diversos choques de realidade que a história traz em si, é difícil imaginar como duas pessoas podem se apaixonar perdidamente em um só dia e como conseguiram se conhecer tão bem ao longo de poucas horas. Essas são coisas inexplicáveis que me fizeram balancear um pouco durante a leitura e quase chegar a conclusão que o romance entre os protagonistas não era convincente o suficiente. Mas a mensagem vai muito além de toda essa fantasia, e ela não é difícil de ser captada, por isso coisas tão impossíveis assim são tomadas como reais na mente de um leitor totalmente envolvido.
    A capa é uma obra de arte literal. Não é computação gráfica: a designer australiana Dominique Falla trabalha com tipografias táteis tridimensionais – confira aqui seus maravilhosos trabalhos. Ela tem uma série de obras em que utiliza apenas pregos e linhas coloridas como instrumentos de criação. O Sol Também é Uma Estrela fez parte dessa série. Veja aqui o vídeo com a construção da capa. Ela traduz exatamente a mensagem que o livro passa, ou seja, a conexão que há entre todas as pessoas do mundo para que ao menos duas delas se encontrem e se apaixonem – isso remete aos vários acontecimentos que se passaram ao longo do dia (e da vida) de Natasha e Daniel para que os dois se encontrassem. A diagramação é impecável, cada capítulo tem o símbolo que representa cada personagem e a cartela de tatuagens adesivas com os símbolos foi um mimo muito fofo, assim como a almofadinha com uma das belas citações do livro.
    Não se trata apenas de uma história de duas pessoas apaixonadas. Se trata também das coisas que o Universo precisou fazer para que todos chegássemos ao hic et nunc (aqui e agora), e dos sonhos que é preciso ter para fazer nosso mundinho particular girar no sentido correto, mesmo quando muita coisa não faz sentido. O Sol Também é Uma Estrela é um livro intenso, que mexe com os sentimentos sem dó e é capaz de afetar diversas visões de mundo. O quanto nossas vidas podem mudar em apenas um segundo? – esse é o questionamento que predomina durante todo o enredo. E a resposta é: a escolha é sua.

Primeiro parágrafo: "Carl Sagan afirmou que, se você quiser fazer uma torta de maçã desde o início, precisa primeiro inventar o Universo. Quando ele afirma "desde o início", quer dizer a partir do nada. Quer dizer a partir de um tempo anterior à existência do mundo. Se você quiser fazer uma torta de maçã a partir do nada, precisa começar com o Big Bang, universos em expansão, nêutrons, íons, átomos, buracos negros, sóis, luas, marés oceânicas, Via Láctea, Terra, evolução, dinossauros, eventos de extinção, ornitorrincos, Homo Erectus, homem de Cro-Magnon, etc. Precisa começar do início. Precisa inventar o fogo. Precisa de água, solo fértil e sementes. Precisa de vacas, pessoas para ordenhá-las e mais pessoas para bater esse leite até virar manteiga. Precisa de trigo, cana-de-açúcar e macieiras. Precisa de química e biologia. Para uma torta de maçã realmente boa, precisa das artes. Para que uma torta de maçã dure gerações, precisa da prensa gráfica e da Revolução Industrial e talvez até de um poema".
Melhor quote: "Acho que todas as nossas partes boas estão conectadas em algum nível. A parte que divide com outra pessoa o último biscoito de chocolate do pacote, que faz doação para uma instituição de caridade, que dá um dólar para um músico de rua, que trabalha como voluntária, que chora com os comerciais da Apple, que diz eu te amo ou eu te perdoo. Acho que isso é Deus. Deus é a conexão com a melhor parte de nós".



2 Comentários

  1. li esse livro e ele virou um dos meus favoritos! como disse na minha resenha, Yoon parece um monstro, escrevendo histórias e desenvolvendo personagens! ela é incrível e fiquei apaixonado pelos protagonistas! <3

    adorei a resenha! :D

    abraços! <3
    Alex, do blog Um Bookaholic.
    umbookaholic.com | Canal | @umbookaholic: instagram/twitter

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  2. Como comentado no posto sobre as capas ao redor do globo, uma pena esta não entregar nenhum pouquinho a baita historia que se esconde ai. Eu mesma não dei nada quando vi, tanto é que nem atras da sinopse eu fui, mas quando assisti um video que mostra como a capa foi feita que me interessei em ler a respeito e foi ai minha surpresa. Como tu comentou a historia vai beeeem alem do romance fantasioso e explosivo entre adolescente, ele tem uma mensagem profunda oq eu me deixou cheia de vontades.

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