Olá, leitores! Na coluna Li até a página 100 e... de hoje, apresentarei minhas primeiras impressões sobre o primeiro livro da Trilogia Ordem Vermelha: Filhos da Degradação, do brasileiro Felipe Castilho.


PRIMEIRA FRASE DA PÁGINA 100: "Ouviu um guincho vindo do céu crepuscular e estendeu o braço para o falcão pousar, com irrefutáveis penas negras presas ao bico".

DO QUE SE TRATA O LIVRO: Ele retrata um outro mundo – Untherak, a última região habitada –, onde humanos, kaorshs, gnolls, anões, gigantes e sinfos o habitam, tendo como único propósito servir à sua criadora: a deusa Una. Em tempos remotos, as criaturas se rebelaram e disseminaram o mal sobre a Terra, liberando a ira da deusa, que os condenou à servidão sob o peso dos Autoridades – aqueles que a representam. É no meio desse cenário que conhecemos Aelian, um jovem rebelde que perdeu seus pais no terrível Festival da Morte. Anos depois, o Festival voltará a acontecer e as esposas Yanisha e Raazi precisam fazer algo, pois carregam um grande segredo que mudará o destino de toda Untherak.

O QUE ESTÁ ACHANDO ATÉ AGORA?
Apesar de a história ainda estar envolta em muitos mistérios, estou achando sensacional. Não consegui pegar o ritmo da leitura, pois até então não está fluída, mas tenho que reconhecer que o universo criado por Castilho é original e encantador – características que já me fizeram valorizar a história.

O QUE ESTÁ ACHANDO DO PERSONAGEM PRINCIPAL?
Dois personagens se destacaram como protagonistas: Aelian e Raazi. Ambos são diferentes e têm motivações distintas, porém são conquistáveis à sua maneira. Ao mesmo tempo em que aparentam ser um livro aberto, eles ainda têm muito o que contar.

MELHOR QUOTE ATÉ AGORA:
"O tempo tem a capacidade de transformar tudo, exceto a si mesmo. Ele derruba muralhas, modifica raças, transfigura uma pessoa em outra e deturpa memórias. No entanto, será sempre o tempo". 

VAI CONTINUAR LENDO?
Claro! Além de estar fascinada pelo universo em que a história se passa (todo o cenário medieval me tira o fôlego só de imaginar) também estou curiosa sobre todas as coisas que ainda precisam ser desvendadas.

ÚLTIMA FRASE DA PÁGINA 100: "Por fim, percebeu que toda aquela montanha de alimentos eram só cebolas".


Livro: Todo Dia a Mesma Noite: A História Não Contada Da Boate Kiss
Autor (a): Daniela Arbex
Editora: Intrínseca
Páginas: 244
ISBN: 978-85-510-0285-8
Sinopse: Reportagem definitiva sobre a tragédia que abateu a cidade de Santa Maria em 2013 relembra e homenageia os 242 mortos no incêndio da Boate Kiss. Foram centenas de horas dos depoimentos de sobreviventes, familiares das vítimas, equipes de resgate e profissionais da área da saúde – ouvidos pela primeira vez neste livro –, para sentir e entender a verdadeira dimensão de uma tragédia sobre a qual já se pensava saber quase tudo. A autora construiu um memorial contra o esquecimento dessa noite tenebrosa, que nos transporta até o momento em que as pessoas se amontoaram nos banheiros da Kiss em busca de ar, ao ginásio onde pais foram buscar seus filhos mortos, aos hospitais onde se tentava desesperadamente salvar as vidas que se esvaíam. Foi também em busca dos que continuam vivos, dos dias seguintes, das consequências de descuidos banalizados por empresários, políticos e cidadãos. 

Daniela Arbex trabalha há 22 anos como repórter especial do jornal Tribuna de Minas. Suas investigações resultaram em mais de 20 prêmios nacionais e internacionais, entre eles três Essos, o IPYS de melhor investigação da América Latina e o Knight Internacional. Estreou na literatura com Holocausto brasileiro e em seguida lançou Cova 312, com os quais ganhou dois prêmios Jabuti. Recentemente, virou documentarista e seu filme Holocausto brasileiro ganhou as telas da HBO em 40 países. Daniela mora em Minas Gerais com o marido e o filho.

    Duzentos e quarenta e dois, 242 – parece apenas mais um número. Mas no dia 27 de janeiro de 2013 (e nos vários tormentosos dias que se seguiram), ele ganhou outro significado. Faz mais de cinco anos desde a tragédia da Boate Kiss em Santa Maria, que teve a capacidade de parar o Brasil e chamar a atenção como o quinto maior desastre do país, o segundo maior em número de vítimas em um incêndio, o maior do Rio Grande do Sul e o terceiro maior em casas noturnas do mundo. Sim, são muitos números. Mas os números nunca indicam a história por trás deles, e é isso que Todo dia a mesma noite se dispõe a fazer.
    Baseando-se em depoimentos dos sobreviventes, da equipe de resgate que atuou no acontecimento e dos familiares das vítimas, Daniela Arbex faz uma reconstituição dos eventos ocorridos naquele 27 de janeiro e busca ir além dos números. Ela conta as histórias dos jovens personagens que tiveram suas vidas brutalmente arrancadas – não apenas a deles, mas a de todos que estavam ao seu redor. A dor e a ânsia por justiça se encontram em cada palavra (dita e não dita). Cada uma das vidas ali perdidas tinham suas próprias histórias, seus próprios dramas e sentimentos. Arbex mostra que o país não estava preparado para algo de tamanha magnitude: não havia espaço para os corpos daqueles que morreram nem para os feridos, o que contrasta com a situação da boate naquela noite, que ocupava muito mais do limite suportado – a capacidade do local não passava de 691 pessoas, mas havia aproximadamente 1500 no momento do incêndio.
  Porém, Todo dia a mesma noite não traz apenas relatos dos personagens que passaram por essa tragédia. Ele também denuncia e reúne todos os fatos, mostrando que o incêndio na Kiss não foi um simples acidente, e sim uma série de erros e omissões por parte de todos os envolvidos. E quem pagou o maior preço foram aqueles que nada tiveram a ver com tais falhas. Desde que a boate entrou em funcionamento (no ano de 2009) sempre esteve desregularizada em algum aspecto, seja com relação ao Plano de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI) ou com o alvará de localização, levando a conclusão de que, dentro dos termos legais, a casa noturna não deveria estar em funcionamento naquele dia.

    Meu primeiro contato com uma obra de Daniela Arbex foi com Cova 312, a qual tive o prazer de resenhar aqui no blog, e se tornou um dos melhores livros de não-ficção que já li. Desde então, tenho acompanhado o trabalho da autora e admirado seu talento para lidar com as questões humanas de forma humanizada – o que parece óbvio, pois é assim que sempre devem ser tratadas, mas ao observar o ritmo do mercado jornalístico, percebemos que na prática não é isso que ocorre. Como falei no início, números parecem mais importantes na hora de relatar os acontecimentos, além de ser mais prático. Mas o que garante que as obras de Arbex – incluindo Todo dia a mesma noite – sejam tão especiais, é justamente o olhar e o tratamento que ela dá a cada detalhe que compõe a narrativa. Novamente, Arbex dá um exemplo de jornalismo e mostra que não é suficiente apenas apurar os fatos, mas também pôr sentimento no que está sendo escrito.
    A narrativa é crescente, porém não-linear. Com bastante fôlego, a escrita da autora segue um rumo onde todos os acontecimentos são retratados no momento certo. A cada capítulo, ela nos apresenta uma parte da história, mas não as finaliza ali. Todas têm um ponto de encontro à medida que o livro está chegando ao seu desfecho. Porém, esse desfecho ainda não é o fim da história e isso fica muito claro, ou seja, se daqui a uns anos outro livro seja escrito a respeito do incêndio da boate Kiss, talvez o rumo da narração dos fatos seja diferente. Claro que algumas coisas jamais podem mudar, mas os processos ainda seguem e os pais das vítimas continuam lutando por justiça ao lado de todo o Brasil.

"O trabalho dos legistas junto às vítimas seguiu silencioso durante quase todo o período, mas, de tempos em tempos, podiam-se ouvir lamentos que quebravam a dureza da função. Nenhum mecanismo de proteção os isentou de chorar por Santa Maria e por tudo o que a soma de vítimas naquele ginásio representava: mais de 9 mil anos potenciais de vida perdidos, considerando a expectativa dos brasileiros de 75 anos. Não havia como ficar imune ao sofrimento provocado pela tragédia. Naquele domingo, a cidade inteira tinha seu coração preso dentro de um ginásio" (p. 104-105).


   A escrita é sucinta e objetiva, como toda reportagem deve ser. Porém, também segue a linha do jornalismo literário, em que encontrar o coração do leitor para tocá-lo e sensibilizá-lo é um dos principais objetivos. Todos os relatos tem o maior número possível de detalhes, é possível perceber toda essa dedicação e cuidado ao tratar dos casos. Falas e descrições foram reconstituídas para passar mais realismo e credibilidade, além de prender o leitor. A autora também tem como foco os objetos e o valor que cada um deles tinha para a vida das vítimas e de suas famílias – como o jovem Augusto, filho adotivo que levou a identidade por recomendação de sua mãe para que não fosse confundido com outra pessoa numa abordagem da polícia, e algumas horas depois essa mesma identidade fez com que seu corpo fosse reconhecido; ou como o celular da jovem que tinha 134 ligações não atendidas da mãe; ou ainda como Lucas Dias, que tinha um orgulho exacerbado de seu estado gaúcho, costumava usar roupas típicas da região, e acabou sendo enterrado com elas, além de ter a bandeira do Rio Grande do Sul estendida sobre seu caixão; ou talvez a última cartinha que Vitória escreveu para o Papai Noel, em 2012, um mês antes de sua morte, onde usou seu humor para pedir um camaro amarelo. 
   Todos esses detalhes fazem com que o leitor envolva-se profundamente nas histórias, e isso é o mais devastador. Compartilhei um pouco da dor das famílias e dos dramas de cada uma das vítimas retratadas. Isso fez com que me perguntasse o tempo todo o que teria acontecido se todos ainda estivessem vivos, se aquele sinalizador não tivesse sido acendido pelo vocalista da banda Gurizada Fandangueira (será que era só uma questão de tempo, como se fosse preciso uma tragédia ocorrer para chamar a atenção das autoridades?), se os donos da Kiss tivessem sido mais responsáveis e cumprido com todas as normas, se a fiscalização no Brasil fosse mais eficaz... São diversas perguntas que ficarão para sempre sem respostas.
    Porém, o trabalho de Arbex não parou por aí. Ela também mostra como estão hoje as famílias e amigos das vítimas, como estão tentando lidar com a morte delas. Ninguém saiu ileso de sofrer com as lembranças da tragédia, inclusive os profissionais que trabalharam em torno do caso. Muitos tiveram que recorrer a tratamentos psicológicos e psiquiátricos para tentar retomar suas vidas da melhor forma possível. Outros ainda usam o luto como luta – para parafrasear o lema "Do luto à luta" usado para fortalecer as esperanças daqueles que ainda esperam a justiça funcionar e punir os processados pelo caso. Mais de cinco anos se passaram, mas Todo dia a mesma noite é a maior prova de que todo dia é 27 de janeiro de 2013 para aqueles que ainda sofrem com as terríveis perdas daquela madrugada.


"Para quem perdeu um pedaço de si na Kiss, todo dia é 27. É como se o tempo tivesse congelado em janeiro de 2013, em um último aceno, na lembrança das últimas palavras trocadas com os entes queridos que se foram, de frases que soarão sempre como uma despedida velada" (p. 185).


Olá, leitores! Na coluna Li até a página 100 e... de hoje, apresentarei minhas primeiras impressões sobre o livro do brasileiro Aliel Paione, Sol e Sonhos em Copacabana.


PRIMEIRA FRASE DA PÁGINA 100: "Jean-Jacques entrou no quarto em que deixara Verônica, e parou um instante, admirando-a".

DO QUE SE TRATA O LIVRO: O livro tem como pano de fundo a Copacabana dos anos 1900 e gira em torno de Jean-Jacques Chermont Vernier, um jovem diplomata que chega ao Brasil por meio de uma transferência em seu emprego na França. Assim, ele une o útil ao agradável, já que sempre sonhou em conhecer as terras brasileiras desde os tempos de criança, em que seu avô lhe contava histórias do país tropical. Inteiramente encantado pelas riquezas naturais do Brasil – tanto quanto decepcionado pelo seu cenário político – ele acaba por se apaixonar pela bela Verônica, uma das prostitutas do famoso cabaré Mère Louise.

O QUE ESTÁ ACHANDO ATÉ AGORA?
A escrita de Paione é bastante polida e é muito prazeroso perceber todas as referências literárias que ele usou na obra. As descrições são detalhadas de maneira tão onírica, como se o Brasil fosse um verdadeiro paraíso. Porém, a realidade também bate à porta e Paione também retrata a situação política e econômica de um país que tinha tudo para funcionar bem, mas que, nas mãos da elite ambiciosa e egoísta, se torna fadado ao fracasso.

O QUE ESTÁ ACHANDO DO PERSONAGEM PRINCIPAL?
Jean-Jacques é um romântico sonhador. Educado, é capaz de manter uma boa conversa com todos os que cruzam seu caminho, é apaixonado pelas pessoas e pelas belezas que o Brasil carrega, sabendo enaltecer cada uma delas – mais que os próprios brasileiros. Ele é do tipo que vive intensamente, é extremamente romântico e cavalheiro, especialmente quando se trata de Verônica, por quem nutre um amor repentino e avassalador. Até o momento, Jean me conquistou, pois apesar de sua visão cheia de esperanças e sonhos, ainda mantém os pés no chão.

MELHOR QUOTE ATÉ AGORA:
"A vida é um risco, Verônica! E viver é sempre apostar na felicidade; mesmo que ela não venha, a sua busca nos consola e nos engrandece. O trágico é sonhar com o passado, é imaginar as possibilidades não vividas e que não voltam jamais". 

VAI CONTINUAR LENDO?
Sim, estou bastante empolgada para saber como terminará o romance impossível entre Jean e Verônica e como Paione descreverá o cenário político que se desenrolará – entre erros e acertos.

ÚLTIMA FRASE DA PÁGINA 100: "Intensamente excitada, recuou três passos, até a cabeceira da cama, e olhou para ele em êxtase".


Olá, leitores! Bem-vindos a mais um post da coluna Quotes de Quarta, onde compartilhamos com vocês os melhores trechos dos livros que lemos. Espero que curtam os quotes de hoje:




"Mas, simplesmente, não havia substituto para a perda de um homem que era o companheiro da minha alma, meu melhor amor, meu amante, a única coisa em que eu confiava num mundo nada confiável".
— Melancia (Marian Keyes).



"É tão fácil se esquecer de como o mundo é cheio de pessoas, lotado, e cada uma delas é imaginável e sistematicamente mal interpretadas".
— Cidades de Papel (John Green).


"Não se esforcem demais para ser uma casal perfeito, meu amor. Não fiquem se metendo na vida um do outro; não tenham medo de discutir, de calar a boca ou de contar umas mentirinhas bobas; ajude na limpeza; não deixe cuecas sujas do avesso largadas no chão; abaixe o assento na privada; compre flores para Ivy uma vez por mês e lhe dê um beliscão na bunda uma vez por semana. O resto é com você."
— Nós Dois (Andy Jones).


A editora Intrínseca anunciou recentemente para 09 de abril o lançamento da versão graphic novel de Deuses Americanos, o grande clássico de Neil Gaiman, adaptado recentemente pela Amazon. Confira a capa e a sinopse abaixo:


Sinopse: Mistura de road trip, fantasia e mistério, o romance Deuses americanos alçou Neil Gaiman à fama mundial e ao posto de um dos maiores escritores de sua geração. Agora, os fãs de quadrinhos e da obra-prima do autor têm mais um motivo para celebrar: chega às livrarias o primeiro volume das graphic novelsinspiradas em Deuses americanos. Ao todo, serão três volumes. Em Sombras, as cores e os traços vibrantes de P. Craig Russell e Scott Hampton nos apresentam Shadow Moon, um ex-presidiário de trinta e poucos anos que acabou de sair da prisão e descobre que sua mulher morreu em um acidente de carro. Sem lar, sem emprego e sem rumo, ele aceita trabalhar para o enigmático Wednesday e embarca em uma viagem tumultuada e reveladora por cidades inusitadas dos Estados Unidos. É nesses encontros e desencontros que o protagonista se depara com os deuses - os antigos (que chegaram ao Novo Mundo junto dos imigrantes) e os modernos (o dinheiro, a televisão, a tecnologia, as drogas) -, que estão se preparando para uma guerra que ninguém viu, mas que já começou. O motivo? O poder de não ser esquecido.



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